sexta-feira, abril 11, 2008

o meu avô




será que os comportamentos são genéticos?
o assunto daria para escrever um livro.
aqui e agora deparo com a mera coincidência de algures no tempo e no espaço o meu avô materno ter usado as folhas de papel comorefúgio da sua lucidez alcoólica.
Poderá de alguma forma estar relacionada com o aqui e agora deste presente que vivêncio?
estranho pensar que poderei partilhar esta insanidade com alguém que nunca conheci mas a quem estou e estarei relacionada...
estranho será pensar que as minhas palavras poderão ser as suas e esta ideia faz com que bloqueie a minha memória a rever as que já li escritas por ele.
Imagino-o a escrever com a ansiedade de quem fala para aquele amigo a quem contamos tudo, só que apenas não esperamos resposta de volta.
Sentado num banco de madeira, gosto pelo tempo, na taberna da rua da minha avó. Os outros homens que se riam dele pela ignorância do que ele falava e por isso a chamá.lo de louco.
Não seria ele o mais lúcido deles todos? ao menos ele entendia o mundo, era tão poderoso e com uma fraqueza ainda maior: a bebida.
Tamanha droga que o tornou cego no seu amor pelas que o rodeavam.
Nesta minha descrição do meu avô não vejo qualquer compração a mim, sou diferente claro. Estranho falar de alguém que nunca se conheceu e que apenas vive nas recordações da minha mãe e da mãe da minha mãe e por isso quase consigo vê-lo a escrever na tal taberna ou em casa junto à máquina de costura.
agora analisando a situação, poderá ser consequência da necessidade de identificação com alguém próximo como resposta à situação pela qual estou a viver.
No meu estado meio lúcido, meio insano rio-me dos meus pensamentos de um avô perdido na memória.
É muito engraçado considerar o estado de insanidade como uma lucidez tmeporária ou numa verdade turva mas nem por isso mentira...

Sem comentários: